terça-feira, 27 de julho de 2010

Copo meio vazio

É díficil controlar emoções. O que chateia nem sempre é proporcional ao efeito que produz.Depende da hora e do lugar, mas sobretudo do estado prévio. Pequenas pedras no sapato que moem, magoam, massam. Pequenas, ridículas... insignificantes quase! O Lonely Planet debaixo do braço, a curiosidade por conversas alheias e a foto no Muro de Berlim. O desejo não adivinhado, a surpresa que faltou, o champagne à temperatura ambiente, e os olhares suspeitos no supermercado. Pequenos, ridículos, quase insignificantes pedaços que faltam num puzzle QUASE perfeito. Perfeito em muito mais, e em mais importantes pedaços. Esses sim, grandes pedaços. Não pequenos, não ridículos, não insignificantes. Mas é dificil controlar emoções, dizer "Não ligues!". Olha para os grandes pedaços e esquece as pequenas, ridiculas, insignificantes pedras que teimam em parecer pedregulhos, rochedos monstros, intransponíveis. Pequenas, ridiculas, insignificantes... Pergunto-me porque sobressaem tanto neste copo meio vazio que às vezes chamo meu.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quase 1 ano...

Quase 1 ano. Incrível. Passou rápido, o ano. Deve ser bom sinal, digo eu. A minha vida deu uma volta de 180 graus, mas o balanço é positivo! Sabe bem ter encontrado a "media naranja". Ambas as "metades" já duvidavam que isso fosse possível... Mas no meio de todos os cinzentos pinguins, a tua camisa havaiana sobressaiu! Ás vezes ainda penso "e se?". E se... eu não tivesse escolhido Austrália em vez de Londres? a Carmélia não me tivesse convencido a fazer aquela viagem ao "outback" australiano?não tivessemos coincidido na mesma "day tour"? não tivesse ficado furiosa por teres pago o nosso primeiro jantar? não tivesses voado até Melbourne e passado aquele fabuloso Sábado comigo? não me tivesses dado um beijo envergonhado na despedida?... Definitivamente, seria uma eminente Psiquiatra de sucesso (modéstia à parte), num T2 moderno e limpo, com uma gata obesa e uma empregada fenomenal, amigos com quem contar e família a 2 horas de autoestrada. Sim, seria. Feliz? Não sei. Só sei que passado uma semana e meia, sinto muito a tua falta. O sofá bordeaux não parece o mesmo sem ti, o comando da TV murmura o teu nome, e os meus pés gelados também. Fazes-me falta. Aqui.

23 de Julho de 1988

Fazia calor. Final de tarde típica de Verão. As escadas da casa de Mazedo descidas à pressa. "Tu ficas nos avós!", "Não, Papá! eu quero ir!!!". A teimosia é uma velha companheira, como vês. Não era birra, era mais uma "vontade forte", como se diz em inglês ("strong will"). Os 120 km que se seguiram foram vividos com excitação; e não estou a falar propriamente dos sinais vermelhos ignorados! Povoavas a minha imaginação, embora ainda sem rosto. Imaginava-te com laços no cabelo e um par de cromossomas X. É verdade!... A 3 dias de completar 11 anos, estava ainda naquela fase em que as raparigas não apreciam muito a companhia de miudos do sexo oposto.
A espera no corredor da Clínica da Trindade foi longa e dolorosa. Gemidos de dor faziam doer os ouvidos (e a alma...). Com o coração e o estômago apertados, esperava. Demoraste. Pelo menos, foi o que me pareceu. Mais tarde, a Mamã diria que não - ao que parece, foste bem mais rápido que eu!...
O Papá apareceu finalmente! Trazia uma daquelas batas de Hospital (azul ou verde... não me lembro). "É rapaz!". "Careca?", perguntei. "Ou é loirinho?". Pergunta estúpida, por sinal. Daquelas que se fazem quando não se sabe o que dizer. Quando a alegria é tanta, que o coração salta do peito, e os olhos arregalam até mais não. Quando nem sequer há lugar para fazer o luto dos laços no cabelo e das imaginárias brincadeiras de meninas. Quando brota de dentro um genuíno Amor daqueles que não precisa de ramos de flores nem alianças. Um Amor que nasce e fica por lá, de pedra e cal. Um Amor que faz as tuas dores maiores que as minhas, as tuas lágrimas mais salgadas, e os teus medos mais escuros. Um Amor que faz os teus sonhos sorrirem nos meus olhos, e os teus sucessos encherem-me a boca. Um Amor que é orgulhoso e impaciente, que exige e grita alto, mas também perdoa e abraça forte. Um Amor que resmunga quando não ligas, mas que liga de volta para não gastares dinheiro. Um Amor que reclama e que congratula, que sente a falta e que deseja o melhor. Um Amor que vai estar sempre aqui, que atravessa o oceano se for preciso, e que só te quer vêr feliz... Parabéns, maninho!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Grande, vazia e fria

A casa ficou grande de repente. Vazia. Enorme. Como um daqueles Palacetes de antigamente, mas sem criados nem louça fina. Grande e muda, com cheiro a solidão. Grande e áspera, indisposta, mal-encarada. Grande e desconfortável, como um par de sapatos por estrear. Grande e fria, em pleno Verão... Escura, estranha, sem música nem fogão. Silenciosa, triste, deserta e mal dormida. Irrequieta, distraida, mas sem alegria, nem roupa pelo chão.
Mas sobretudo, grande... vazia e fria. Sem ti. Pois não.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"Lista", ponto (to be continued...)

- Ver o nascer do sol nos 5 continentes (falta América e África, se não me engano)
- Provar caracóis.
- Escrever uma carta a exigir que voltem a dar o Dartacão na TV (desta vez mesmo eu; não o meu pai!).
- Ver a Aurora Boreal.
- Visitar "Ancora Wat".
- Saber se há vida em outros planetas.
- Escrever um livro.
- Ter um filho (de preferencia XX), ou mais que um...
- Fazer depilação definitiva (e lipoaspiração... e tratamento antirugas...).
- Ver todos os programas do National Geographic, e do canal História.
- Ir a Nova Iorque no Inverno, e à Patagónia no verão.
- Fazer um safari em África, e subir aos Himalaias (não precisa de ser ao topo!).
- Voltar a fazer uma Missão Humanitária
- Voltar a Timor Leste...

Listas

Vi o filme ontem. Sim, é de 2007. Tinha curiosidade, mas nunca se tinha proporcionado. Faz pensar... E faz também ter vontade de fazer uma. Lista, pois então! Não gosto muito do nome anglosaxónico: "Bucket List". Vem de uma expressão semelhante ao nosso "esticar o pernil". Poderia então ser "Lista do Pernil", ou "Lista antes de esticar o pernil"?... Não me parece. Faz lembrar talhantes, charcutaria e afins. "Lista de sonhos"?... demasiado agridoce. "Lista de objectivos"?... demasiado "objectivo", racional, concreto. naah.
Para já, fico-me pela "Lista", ponto. Parece-me bem. Quem me conhece, sabe que adoro listas. De todos os tamanhos e feitios, desde as puramente domésticas (lista de supermercado) às mais secretas (Lista de calorias, e de momentos a dois...). Desde as profissionais (doentes e processos por vêr)às de manutenção de amizades (parabéns por dar e mails por responder). Listas de presentes de Natal e de recordações de férias por comprar. Uma das minhas favoritas é, sem dúvida, a famosa lista de "o que levar para férias". Habitualmente, emerge de uma folha A4 dobrada em...4, com (demasiada?) antecedência. O prazer equivale ao de comprar o bilhete de avião ou até mesmo o Lonely Planet! A antecipação é saboreada em cada sandália eleita para a viagem (qual Miss Mundo privilegiada). Em cada penso rápido tornado "airborne"; em cada mini-meia candidata a secar num chuveiro. No livro escolhido para os bancos de aeroporto. Nos casacos estrategicamente em casca de cebola, no omnipresente impermeavel ("nunca fiando", dizia a minha avó Mimi; "mas na Tailândia é verão, Vóvó!!!", ao que retorquia "nunca fiando", com o mesmo septicismo com que olhava o meu irmão adolescente falar de dinossauros, e a mim, anos mais tarde, quando lhe comuniquei que finalmente o Papa decidiu acabar com o limbo!)... Listas... e memórias. Ou talvez memórias de listas quase tão prazerosas como as próprias.