terça-feira, 10 de agosto de 2010

Fazes-me mal

Fazes-me mal. Mesmo ao longe. Bem longe, por sinal. Como fazes? Como consegues? Não sei. Mas fazes-me mal. Como um mau-cheiro que atravessa paredes e entranha a casa. Fazes-me mal. O teu pessimismo é contagioso, e as tuas paranóias apertam-me a garganta e a alma. Fazes-me mal. A tua voz ecoa do outro lado do oceano, mas quase posso palpar a crítica, na minha orelha. Fazes-me mal. Despertas culpa e às vezes raiva. Turbilhão de emoções que se resumem a duas: Amor e Ódio. Sempre presentes desde que deixei de ver pelos teus olhos e pensar pela tua cabeça. Desde que caiste do pedestal e te tornaste humana, vulnerável, imperfeita. Desde que percebi que não consegues por-te no lugar do outro, que adivinhas más-intenções em tudo e mais alguma coisa, e que a culpa nunca (mas nunca mesmo)é tua. Desde que descobri o maléfico efeito da tua palavra favorita ("vergonha"), e do filtro negro com que vês a vida (tua e dos outros). Fazes-me mal. Não consigo evitar. Não consigo ignorar.
Fazes-me mal. E bem, também. Eu sei. Mas hoje, mais que ontem, fazes-me mal.

Escrever "gosto"

Porque será tão difícil dizer "gosto"? E até escrever. Soletrar. Murmurar. Gosto, sim, é verdade. Mas porque dói assim tanto?... Parece que arranca de dentro, dizer, escrever. Pensar até! dói e arde, no estomâgo, na alma. Dói e mói, e custa, e não consigo! tento, pego na caneta. Olho, outra vez. Não dá. Desisto. Vou escrever-te mais tarde, noutro dia, noutra vida. Noutra língua, talvez... Vou escrever-te, ou até dizer-te! Vou gritar alto e firme. É verdade! Não duvides. Mesmo que não ouças. mesmo que não leias. Mesmo que nunca to diga. É verdade, Mamã. Gosto muito, mesmo muito, de ti.

sábado, 7 de agosto de 2010

Montanha-russa

Enjôo, naúsea, desdém. Suja, feia e podre. Amarga por dentro, rota por fora. Espelho meu quantos dias, horas, semanas. Quantos mais?... Cansada e farta, avessa, trancada. Hoje, não. Amanhã, talvez. Depende do dia... hora? lugar?
Agora, feliz. Amanhã, não me vês... Parece magia, mentira ou doidice. Má-vontade, mimo. Parece maleita, maus ares, tolice. Parece não ter fim, solução ou remédio. Parece que o faço, controlo, decido. Que é minha culpa, vontade, opção. Hoje, abraçar-te. Amanha, não... Parece que vivo. Mas definho, sofro e mirro.

Queixar-se de barriga cheia...

Não me queixo, mas dói. Dói e mói. Rói entranhas, orgulho e decisão. Não percebo como pude, como fiz... Porquê?... Não pensei. Não parei. Dor de barriga e de alma. Desilusão. Dor de hoje e de ontem... Amanhã? Dor latente, à espera... De uma brecha, um sinal. Uma angústia, um momento - vazio, compulsivo, fatal... Tento encher-me de coisas, rápido, a fugir, sem sabor. Vergonha e culpa. Arrependimento. Dor. Igual a mim, fraca e torpe. Igual a mim, sem sentido, perdida por um fio. Dor estúpida, desnecessária. Depende de mim, afinal.